Uma Nova Abordagem sobre Proteção e Cuidado
O ato de cuidar é fundamental e ressoa fortemente no contexto da Igreja, que deve ser um espaço de atenção, empatia e proximidade. Essa ideia permeou a palestra de Dom Hudson de Souza Ribeiro, bispo auxiliar de Manaus, diretor da Faculdade Católica do Amazonas e integrante da Pontifícia Comissão para a Tutela de Menores, realizada na Arquidiocese de Vitória.
Logo no início, Dom Hudson instigou a audiência com uma série de fotos de crianças, que serviram de pano de fundo para a reflexão: “Vocês já foram fotos dessas?”. Essa provocação chamou a atenção para a urgência do tema abordado, que envolveu a proteção de crianças, adolescentes e indivíduos em situações de vulnerabilidade.
O evento foi dividido em duas partes: uma dedicada à fala de Dom Hudson sobre a importância da proteção, e outra à apresentação da Comissão Arquidiocesana, formada em resposta ao Motu Proprio do Papa Francisco, intitulado “Vos estis Lux Mundi”, e ao Documento da CNBB, que trata da Política de Proteção da Infância, Adolescentes e Pessoas Vulneráveis, ambos lançados em 2023.
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Reflexões Históricas e a Cultura do Cuidado
Dom Hudson fez um importante resgate histórico sobre a cultura adultocêntrica que ainda permeia a sociedade. Ele refletiu que as referências à infância são frequentemente carregadas de conotações negativas. O bispo destacou que a Igreja demorou a tratar abertamente o tema da proteção, mas que, nos últimos anos, houve uma evolução com o surgimento de documentos que orientam ações concretas. Segundo ele, estamos em um momento de transição, saindo de uma cultura de abuso de poder, onde o adulto impõe sua vontade sobre a criança, e avançando para uma cultura de cuidado.
“Cuidar é uma condição ontológica do ser humano”, afirmou Dom Hudson, citando a frase: “existo, logo cuido”, que encapsula a certeza de que a proteção deve ser uma prioridade. Na sua fala, ele lembrou que o Papa João Paulo II começou a abordar os abusos de forma mais direta em 2001, e que, a partir de 2002, bispos da América Latina começaram a discutir o tema com mais transparência.
O Papa Bento XVI também desempenhou um papel crucial ao acelerar reformas voltadas para a proteção de vulneráveis. Em 2019, o Papa Francisco enfrentou diretamente os casos de abusos sexuais, pedindo perdão aos afetados e reafirmando a política de tolerância zero em relação a abusos contra crianças e adolescentes dentro da Igreja. Embora a primeira versão de sua declaração tenha sido direcionada apenas aos padres, a revisão de 2023 ampliou a responsabilidade para diáconos, instituições e leigos com funções de liderança.
Construindo Ambientes de Proteção
Dom Hudson enfatizou que as políticas de proteção à criança e a pessoas vulneráveis precisam estar em consonância com as leis civis. Ele deixou claro que “o papel de tutelar é do Estado”, e que a diocese não atua como um órgão judiciário, mas se insere em uma rede de proteção. O ideal é que a Igreja contribua para a formação de ambientes mais saudáveis, levantando propostas e gerando esperança. “O sonho é que cheguemos ao ponto em que não precisaremos mais discutir este assunto”, afirmou o bispo.
Ele também destacou a importância do envolvimento de crianças e adolescentes como protagonistas nas ações de cuidado. Isso reforça a ideia de que o cuidado não deve ser um ato unilateral, mas sim um esforço conjunto e colaborativo.
A segunda parte da palestra foi dedicada à apresentação da Comissão Arquidiocesana, composta por membros como diácono Jovercino, Dra. Lúcia Roriz, Maria de Fátima Facheto, pe. Carlos Barbosa e pe. Jorge Campos. Dra. Lúcia compartilhou o trabalho realizado pela Comissão e introduziu um caderno recentemente publicado, contendo as diretrizes de proteção da Arquidiocese de Vitória.
Ao encerrar o evento, Dom Hudson fez algumas sugestões sobre as atividades da Comissão e compartilhou uma reflexão poética: “Quando deixamos o lado criança morrer, parte de nós morre”. Ele recitou uma canção de Gonzaguinha, que fala sobre a esperança e a fé no futuro, reforçando a mensagem central da manhã: nunca devemos deixar de sonhar e cuidar uns dos outros.


